A COMUNIDADE DO MOTA: História e Memória
Por: Antonio Vicente
Sítio
Mota, localizado a 30 km do município de Coreaú é uma das regiões mais antiga
desta cidade sendo que suas origens remontam à época da independência do
Brasil, ocorrida em 1822.
O
tenente Gabriel Antonio de Aguiar, descendente de portugueses tendo nascido em
Pernambuco sofrendo represálias por ser favorável à independência fugiu
aportando no litoral de Camocim. De lá veio para onde hoje corresponde ao sítio
mota. Disposto a encravar morada neste local e seguido por uma leva de escravos
construiu sua casa onde hoje se situa o Olho d’água do mota[1] (de onde vem o nome do
local), construiu um sobrado, que ainda hoje encontramos vestígios desta casa,
possuía uma grande criação de gado e se apossando de uma larga faixa de terras
começou a desenvolver a agricultura sendo que costumava viajar ao litoral fazendo
a troca de gêneros alimentícios.
Depois
de depois de fixar – se na terra começou a receber a visita de uma índia que
fazia parte da tribo doa tapuias, da Serra da Meruoca. Esta tribo, menciona Pe.
Sadoc no seu livro “História religiosa da Meruoca”[2], como sendo vindos
“da
Bahia de onde começaram a fugir com as curtas levas de tapuias, como as nações
Aconguçus, Icós e Cariris. Bandeiras bahianas, ligando o rio são Francisco ao
Parnaíba, acorreram estes índios e os empurraram para o norte (...), eram as
serras os locais preferidos pelos índios para se refugiar contra qualquer
perseguição, houve porisso uma corrida do litoral para as serras por parte dos
índios, depois que os colonizadores brancos começaram a ocupar a costa (...), é
sabido que os Índios tapuias ou Jês, Índios da língua – travada,eram mais
resistentes à integração na civilização do que os Índios da língua geral
(nhengatu)”.
É
interessante observar que a palavra tapuia é uma palavra que designa apenas o
nome de um tronco de várias tribos não se restringindo apenas a uma tribo
existindo tribos, além da Serra da Meruoca, na Serra da Ibiapaba e em outras
regiões.
Tal
fato é comprovado pela oralidade que a Índia Chicota do Mota andava pelas
serras e que sendo pega por cachorros foi levada para uma tribo e começou
conviver com os demais. Esses tapuias foram agregados à missão da Ibiapaba sob
a organização do Pe. Ascenso Gago, como registrou Pe. Sadoc.
R.
Batista Aragão define os Reriús como fazendo parte de um grupo maior que fazem
parte os Arariús, Areriús e Arariús.
“Não
obstante serem nações independentes, sob o ponto de vista social, as quatro
nações se completavam através do companheirismo diante do qual suas atividades
seriam delimitadas, envolvendo a caça ao mel, a cata aos mariscos(...). Além
disso, essas nações eram governadas por quatro principais, independentes entre
e representados pelos Índios Arapá, Timicu,Coió e guarará, tendo suas aldeias
encravadas no complexo montanhoso da Meruoca”(p.65).
A
índia que foi pega por cachorros foi amansada a viver entre os índios como uma
pessoa adaptada a presença de outros.Fazia constantes visitas ao tenente
Gabriel Antônio de Aguiar pedir uma “maltutagem”. Ou seja, pedir bois para a
alimentação da tribo, diante disso um dia o tenente propôs à Índia que se
casassem. O nome dela passou a ser Francisca Cachinoar de Aguiar (conhecida por
chicota do Mota) e constituíram uma grande família.
A
terra que o tenente se apossou passou a se chamar Data conceição que iam do
Olho d’água do Bode (onde morava uma mulher chamada Conceição, daí o nome da
Data) ao Pajeú. As dimensões do terreno era 2 léguas de Sul ao Norte e 4 de
nascente a poente, fazendo estrema ao lado nascente com a data santo Antonio
(onde hoje corresponde ao distrito de Araquém), a data Cunhaçú (que corresponde
ao lugar de mesmo nome) e a data Uberaba (onde hoje corresponde ao distrito de
Arapá, Tianguá). Do lado norte extrema – se com a data Carnaúba furada e a data
Imbueira.
Sabe-se
que as terras da data foram herdadas pelo Capitão Antonio Félix da cunha-Genro
do tenente Gabriel -, conhecido por “o comprador de terras”.
Para
analisar a história, comportamentos, fatos e conceitos preestabelecidos creio
ser necessário analisar o espaço e seu processo de construção ao longo do tempo
para então tirar uma conclusão a partir das indagações e respostas, pois
“Cabe
ao historiador questionar a idéia de transformação, mudança, movimento, tendo
como principal objetivo saber como as coisas aconteceram principalmente
descobrir o significado e a direção da mudança, com a argumentação de que a boa
história não é simplesmente tentar descrever e analisar o passado, mas
investigar ou questionar como as coisas ou a sociedade mudaram, contribuindo
para uma história social mais dinâmica”[3].
Pensando
dessa forma é importante não só descrever acontecimentos, antes de tudo é
necessário estudar o espaço (urbano) e a maneira como se configura no cenário
regional, nacional e por que não internacional? Pois, sabemos que a realidade
não se explica apenas por fatores locais. Muito pelo contrário, pode estar
entrelaçado por diferentes e longínquos fatores.
2. A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL E PROCESSO DE FORMAÇÃO DO
MOTA
O
período que se segue com a vinda do tenente Gabriel Antonio de Aguiar para o
Mota deve ser entendido no contexto dos movimentos que se sucedem com a chegada
da família real no Brasil em 1808. Nesse contexto devemos levar em conta os
movimentos de rebeldia ocorridos principalmente na província de Pernambuco onde
reside o tenente e que por isso vai beber da mesma água dos revolucionários
daquele período e que agitar toda a colônia.
O
que se segue então é um processo de revolta contra as medidas do rei que quando
aqui chega não vai deixar de ser Portuguesa e com certeza vai tratar dos interesses
dos Portugueses no Brasil. Aliado a esse fato haverão fato de D. João reservar
os melhores cargos para a nobreza lusa e o peso dos impostos irão recair sobre
os brasileiros que irão suportar sozinhos as despesas das campanhas militares
que o rei promoveu no rio da prata. Aliado a isso tinha o fato de os nordestinos
se ressentirem da perda de domínio político que se transferira de um lugar
estranho (Lisboa) para outro igualmente estranho (Rio de Janeiro).
Desde
o início do século XIX o Brasil vinha passando por significativas mudanças.
Primeiro, se considerarmos a chegada da família real no Brasil, em 1808,
fugindo das guerras napoleônicas – o bloqueio continental propunha que Portugal
estava proibido de comercializar com a Inglaterra. No entanto, Portugal tinha
laços muito fortes para não deixar de fazer trocas comerciais com esta – e
instalando – se no Rio de Janeiro com um grande contingente de pessoas:
“A
transferência da corte trouxe para a América portuguesa a família real e o
governo da metrópole. Trouxe também, e sobretudo, boa parte do aparato
administrativo português. Personalidade diversas, funcionários régios
continuaram embarcando para o Brasil atrás da corte, dos seus empregos e dos
seus parentes, após o ano de 1808. Concretamente, além da família real, 276
fidalgos e dignitários régios recebiam verba anual de custeio e representação,
paga em moeda de ouro e prata retirado do tesouro real do Rio de Janeiro.
Luccock calculava em 2 mil o número de funcionários régios e indivíduos
exercendo funções relacionados com a coroa. Junte-se ainda os setecentos
padres, os quinhentos advogados e os duzentos praticantes de medicina
residentes na cidade. Terminadas as guerras napoleônicas, oficiais e tropas
lusas vêm da Europa para a corte fluminense. Segundo o almirante russo Vassili
Golovin, que fez duas estadias na cidade, em 1817 havia no rio de Janeiro de 4
mil a 5 mil militares”[4].
Em resumo, calcula-se que pelo menos 15 mil
pessoas transferiram-se de Portugal para o Rio de Janeiro naquele período.
Também vieram colonos de outras partes do império português Angola e
Moçambique, por exemplo.
Segundo
Boris fausto, com a chegada da família real na colônia começa a abertura dos
portos às nações amigas (28 de janeiro de 1808) o que representa o fim de
trezentos anos do sistema colonial. Dom João com esse ato revogava também os
decretos que proibiam a instalação de manufaturas na colônia, isentava os
tributos sobre importações de matérias – primas, oferecia subsídios para as
indústrias de lã, de seda e ferro.
“A
abertura dos portos foi um ato historicamente previsível mas ao mesmo tempo
impulsionado pelas circunstâncias do momento. Portugal estava ocupado por
tropas francesas, e o comércio não podia ser feito através dele. Para a coroa,
era preferível legalizar o extenso contrabando existente entre a colônia e a
Inglaterra e receber os tributos devidos .
A
Inglaterra foi a principal beneficiária da medida. O Rio de Janeiro se tornou o
Porto de entrada dos produtos manufaturados Ingleses, com destino não só ao
Brasil como ao Rio da Prata e a costa do pacífico. Já em agosto de 1808 existia
na Cidade um importante núcleo de 150 a 200 comerciantes e agentes comerciais
ingleses. Descrevendo as arbitrariedades da alfândega do Rio de Janeiro, um
desses agentes – Jonh Luccock relatava –aliviado, 1809, que os ingleses tinham
se tornado senhores da alfândega, que eles regulavam tudo, e que ordens tinham
sido transmitidas aos funcionários para que dessem particular atenção às
indicações do cônsul britânico“[5].
Boris
analisa também que não só comerciantes beneficiaram-se com a abertura dos
portos como também os proprietário rurais que produziam para as exportações
(açúcar e algodão, principalmente). Analisa ainda que essas mudanças não
aconteciam passivamente já que diferentes mudanças ocorreram na política o que
gerou conflitos.
2.1 A REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA DE 1817
Um
desses conflitos surgiu na província de Pernambuco em 1817. Descontentes com a
política de Dom João que indicou para guarnecer as cidades as cidades
brasileiras forças militares portuguesas fazendo com que os gastos dessas
campanhas militares fossem pagas pelos brasileiros. Aliado a isso ainda era
reservado os melhores postos aos lusos.
Os
problemas de desigualdades regionais e o sentimento de indiferença - pois, o
domínio político da colônia passar de uma cidade estranha para outros, de
Lisboa para o Rio de Janeiro – fez surgir
“...
A revolução que estourou em Pernambuco em Março de 1817 [que] fundiu esse
sentimento com vários descontentamentos resultantes das condições econômicas e
dos privilégios concedidos aos portugueses. Ela abrangeu amplas camadas da
população: Militares, proprietários rurais, Juízes, artesãos comerciantes e um
grande número de sacerdotes, a ponto de ficar conhecida como a ‘revolução dos
padres’. Chama a atenção a presença de grandes comerciantes brasileiros ligados
ao comércio externo, os quais começavam a concorrer com os portugueses, em uma
área até então controlada, em grande medida por estes.
Outro
lado importante da revolução de 1817 se encontra no fato de que ela passou do
Recife para o sertão, estendendo-se a Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte. O
desfavorecimento regional, acompanhado de um forte antilusitanismo, foi o
denominador comum dessa espécie de revolta geral de toda a área nordestina. Não
devemos imaginar, porém, que os diferentes grupos tivessem os mesmos objetivos”
[6](p. 128)
É
nesse contexto que surgem grupos a favor e contra a presença da corte
Portuguesa no Brasil e suas medidas. De um lado tem aqueles desejosos de um
País independente de Portugal, outros (especialmente portugueses) preferem ver
o Brasil atrelado aos interesses portugueses, pois estão sendo beneficiados e é
preferível essa situação de domínio.
Assim
é possível imaginar como desponta a figura do tenente Gabriel Antonio de Aguiar
como sendo favorável à independência, isso porque como já vimos sendo
pernambucano e sofrendo com o peso dos encargos tributários que recaíam sobre a
população daquela província ficaria difícil suportar tantas injustiças.
Quanto
à revolução de 1817
“os
revolucionários tomaram o Recife e implantaram um governo provisório baseado em
uma ‘lei orgânica’ que proclamou a república e estabeleceu a igualdade de
direitos, a tolerância religiosa (...). foram enviados emissários às outras
capitanias em busca de apoio e aos Estados Unidos, Inglaterra e Argentina, em
busca de apoio e reconhecimento. A revolta avançou pelo o sertão, porém, logo
em seguida, veio o ataque das forças portuguesas, a partir do bloqueio do
recife e do desembarque em Alagoas. As lutas se desenrolaram no interior,
revelando o despreparo e as desavenças entre os revolucionários. Afinal as
tropas portuguesas ocuparam Recife, em maio de 1817. Seguiram as prisões e
execuções dos líderes da rebelião. O movimento durara mais de dois meses e
deixou uma profunda marca no Nordeste”(p. 129)[7].
2.2 A INDEPENDÊNCIA
A
independência do Brasil se explica por um conjunto de fatores. Um desses
fatores foi a famosa revolução do Porto (1820) que exigia o retorno de D. João
a Portugal. Paralelo a esse acontecimento os ânimos aqui era de crises devido à
liberdade de comércio com a abertura dos portos. Crise política em decorrência
da ausência do rei; crise econômica, devido à liberdade de comércio; crise
militar, lembre – se das medidas do rei quando aqui chegou.
Com
todas essas crises e revoltas era impossível sustentar um regime coeso (e
monarquista) no Brasil por outro lado D. João sendo obrigado a deixar o País
para tratar dos assuntos em Portugal acaba por deixar em seu lugar o filho D.
Pedro que assumiria o governo e logo seria obrigado a adiar o já previsto a
independência do Brasil. Acompanhemos os fatos.
Sufocada
a revolta de 1817 a coroa tomava medidas no sentido de promover uma integração
entre Portugal e Brasil como partes de um mesmo reino. Além do mais
“(...)
a guerra terminara na Europa, em 1814, com a derrota de Napoleão. As razões da
permanência da corte no Brasil aparentemente já não existiam. Dom João decidiu
entretanto permanecer na colônia e em dezembro de 1815 elevou o Brasil a
condição de reino unido a Portugal e Algarves. Meses depois, após a morte da
rainha, seria sagrado rei de Portugal, do Brasil e Algarves, com o título de
dom João VI[8].
Diante
de todos esses acontecimentos e os problemas que surgem em Portugal, a famosa
revolta de 1821, a ida de dom João para Portugal acontece a proclamação da
independência do Brasil às margens do rio Ipiranga, no dia 7 de Setembro de
1822. Com 24 anos o príncipe regente é aclamado imperador com o título de D.
Pedro I o que acaba criando uma contradição pois, o novo País teria no seu
governo um rei português.
Como
resultados desses acontecimentos muitos ficaram desgostosos e outros não. Na
maioria portugueses certamente não ficaram muito contentes com o acontecido, já
estes começaram a sofrer perseguições. Foi o que aconteceu com o tenente
Gabriel Antonio de Aguiar que sentiu a necessidade de buscar outros caminhos na
inviabilidade de ali permanecer. Ocorre que por circunstâncias adversas (que
ninguém sabe explicar como) ele vem parar nas recônditas terras que hoje
corresponde ao Mota se estabelecendo aos fundos de uma serras onde construiria
sua morada e família.
Sendo
assim nos anos de 1820 chega ao litoral de Camocim, posteriormente ao Mota onde
pretende fixar morada. Levado pela beleza do lugar, rodeado por Serras e Olhos
D’águas constrói sua Casa em cima de uma Serra.
2.3 A VIDA NO
SERTÃO
O
homem durante milênios sempre sentiu a necessidade de plantar e colher, ou
seja, garantir a subsistência. No entanto, não é em todo lugar que encontramos
ambientes propício a esse fim. O sertão é um ambiente pouco fértil devido às
poucas chuvas e o período das Secas[9].
“A
formação histórica da economia da extensa região nordestina tem, inegavelmente,
no fator da água, um de seus elementos mais fundamentais. A disponibilidade de
água, com efeito, condicionou, historicamente, de forma marcada, toda a
orientação do processo de povoamento e ocupação que resultou na atual estrutura
produtiva. Este papel central do fator de água delineia-se, simultaneamente, no
nível dede sobrevivência dos homens e dos animais bem como da produção
agropecuária, setor dominante da economia regional, no qual fizera como um dos
fatores de produção essenciais”.
A
seca sendo um dos fatores que mais atinge e se faz forte no Nordeste desponta
como um dos fatores primordiais na classificação de sua gente. Isto quer dizer
que, na maioria dos casos, recebemos várias rotulações devido morarmos num
ambiente pouco chuvoso e onde mais se encontra pessoas pobres vítimas do
fenômeno natural. No que se refere as secas são grandes os relatos que tratam
do assunto sendo que desde os mais remotos tempos a historiografia trata da
temática um dos primeiros registros a respeito do assunto se encontra na obra
do Fernão Cardim (veja Malveira, 2001: 15) – Tratado da terra e gente do Brasil.
“O
ano de 1587(sic), houve tão grande seca e esterilidade nesta província (cousa
rara e desacostumada, por que é terra de contínuas chuvas) que os engenhos
d’água não moeram muito tempo. As fazendas de canaviais e mandiocas muitas se
secaram, por onde houve grande fome, principalmente, no sertão de Pernambuco,
pelo que desceram de sertão apertados pela fome, socorrendo –se aos brancos
quatro mil índios”.
Entretanto, esse Sertão do qual estamos
falando é um dos ambientes mais propícios à produção de alimentos, embora que
já tenhamos registrados períodos de Seca, fora a isso se pode plantar o arroz,
o feijão, o milho, a mandioca e o algodão. Foi assim que durante anos sobreviveram
as pessoas desse lugar. Quando se trata do período em que o tenente Gabriel
chegou a nesse lugar o comércio era feito no Litoral – eram os famosos Comboios
– em que se fazem as trocas de gêneros agrícolas (arroz e feijão,
principalmente) por peixes, açúcar, rapadura, etc.
A
vida no sertão nordestino é dificultada por diversos fatores, entre estes está
o problema das secas que assolam um grande número de pessoas. Mota se localiza
numa Área semi – árida, embora encontremos alguns Olhos d’água ao sopé das
serras das quais ele fica circundado. Aqui temos um inverno que se estende de
Janeiro a Junho e enfrenta em certos anos certas irregularidades. Um dos
momentos mais marcantes e que está impresso na memória daqueles que viveram
àquela época é famosa seca de 1958 que fez grandes estragos e a de 1983. Quanto
a primeira existem vários relatos pois foi uma das que mais atingiu a população
nordestina e aconteceu num período bem recente
“A
seca de 1958 foi assustadora, colheu os agropecuaristas de surpresa, quase não
choveu, deixou um capim ralo, facilmente, levado pelo vento (víveres, nada).
Participei de tudo, inclusive das frentes de trabalho, frisava o ancião. Apesar
da sequidão o gado era sadio e o povo também (não houve peste) como em secas
anteriores (1932). No entanto, havia uma peste planejada, representada pelos
larápios, os ladrões, escondidos nos fornecimentos que, sorrindo como raposas
arrancavam o couro dos míseros trabalhadores”[10].
Quando
se fala em secas ou períodos de estiagem vários autores explicam que esses não
são um fator isolado, Pompeu Sobrinho[11] se expressa da seguinte
forma:
“O
fenômeno das secas é muito mais universal do que ordinariamente se supõe. Cerca
de metade da superfície terrestre experimenta os seus malefícios e efeitos. A
ocorrência e a intensidade destes efeitos variam muito; mas, alem das variáveis
de natureza cósmica, importa, sob o ponto de vista econômico, ou melhor,
social, considerar outros fatores importantes, os de natureza cultural das populações
sujeitas aos embates do fenômeno”.
Dessa
maneira uma sociedade menos desenvolvida tende a sofrer maiores “vexames” com a
situação comprometendo sua subsistência ao passo que uma sociedade mais
complexa os malefícios passam mais despercebidos, analisa o autor que também
ressalta que a seca é um fenômeno que atinge não apenas os diretamente
envolvidos na calamidade, mas a compaixão de várias pessoas que se organizam em
favor dos flagelados. Neste contexto surgem também aqueles que se aproveitam da
situação, principalmente em épocas de eleição para conseguir alguns votos.
Referindo
– se ao mesmo assunto Alvargonzalez observa que o drama das secas no Nordeste é
uma problemática com consequências que vão além da falta de água
“Sua
gênese deriva da conjunção de imenso cenário ecológico, no qual imperam
condições adversas à prática da agricultura de subsistência e de uma sucessão
de eventos que conduziram, não obstante, a sua predominância. Sua presença,
transfigurada securlamente em tenebrosa borrasca de reiteradas calamidades,
deixou atormentada marca, cuja impressão ressalta nitidamente na literatura e
no folclore nacionais” [12].
2.3.1 ECONOMIA
Desde os mais remotos tempos Mota e
localidades vizinhas tiveram como base econômica a agricultura itinerante (os
chamados Roçados) que é a base de subsistência em região de solo pouco fértil,
pedregoso árido, com chuvas entre os meses de janeiro a Maio. Os gêneros mais
produzidos é o milho, arroz, feijão, mandioca, mamona, gigilim e algodão, sendo
que este último era vendido em grande escala, pois a produção era grande já que
o mercado precisava e o preço era bom. Se referindo a esse período áureo do
algodão Flávio guerra[13] argumenta que
“Sem
se falar no açúcar, agora desimpedido no mercado estrangeiro, sendo tão
sensível a sua produção que em 1812 excedera a dos princípios do último século,
surgira, também, a época áurea do algodão – quando se viam plantadores e
comissários de negócios da herbácea – nadando na maré da fortuna, com o aumento
que chegava a quinhentos por cento no seu preço como consequência da guerra de
1812 e 1813 entre os Estados unidos e a Inglaterra e da extinção em 1815 do
bloqueio continental” (pp. 85 – 6).
A
titulo de exemplo, em época bem recente um dos grandes produtores de algodão
era o senhor Zé Izabel – já falecido – que vendia carradas da matéria prima
para Sobral, da mesma forma fazia o seu Chicó. Hoje, não se tem mais a venda
desse artigo, predominando apenas o arroz, feijão e milho. O comercio ainda é pouco
intenso, mas é uma das atividades que vem mais se destacando no cenário.
A
agricultura a cada dia vem desiludindo os trabalhadores, pois, bem lembram, a
produção não compensa os gastos, fazendo com que fique restrita àquelas
famílias que têm um médio ou grande contingente de pessoas: pagar trabalhadores
não compensa pois no final das contas o que se produz não dar para pagar o
serviço prestado pelo ajudante. O plantio da mandioca não compensa já que
quando se chega ao produto final o trabalho ou investimento que se fez não é
compensado. O que se ver, ainda, são algumas famílias que se utilizando dos
próprios esforços (sem ajudantes) sentem a falta (lembranças que as farinhadas
eram constantes no passado e a reunião para diversão e momentos de encontros)
das saudosas farinhadas.
De
outra maneira, temos uma agricultura pobre, desiludindo já que os solos estão
cada vez mais pobres, a juventude sem nenhum interesse em continuar ajudando
seus pais na lavoura e a cada dia se ver mais pessoas interessados em conseguir
um emprego. Outros já pensam em ir embora do lugar, prova disso é o grande
número de jovens que já foram para a capital em busca de emprego, muitas vezes,
em Restaurantes, como Garçons.
Como
solução para esses problemas se faz essencial um planejamento onde se
procuraria desenvolver e dinamizar a economia gerando novas perspectivas de
futuro. A formação de cooperativas, associações, qualificação profissional. Um
dos projetos que deveriam ser mais destacados é a irrigação que conta com
excelente meio às margens do rio Juazeiro e Coreaú. Com certeza seria um
investimento que traria grandes mudanças já que como se vê tem um enorme
potencial com a produção de legumes, mamão e outros, pena que os pequenos
investimentos nessa área não passam da iniciativa privada de médios
agricultores. É preciso se repensar o desenvolvimento do município de Coreaú,
principalmente no que diz respeito à industrialização. Não encontramos nenhuma
empresa que gere emprego e renda para
nossos trabalhadores. E o que vamos esperar para nosso futuro: estudar, se
formar um dia e ir embora da cidade? Só se for, porque pelo o que se ver cidade não oferece nada que desperte o
interesse dos jovens. É preciso planejar
a cidade para que possamos enxergar nela um futuro e querer se formar na
vida estudantil para conseguir um emprego e podermos se orgulhar de viver num
ambiente sociável, de progresso e sustentabilidade.
[1]
Algumas pessoas entendem que a palavra Mota é um nome indígena. No entanto não
sabem o seu significado.
[2] ARAÚJO, Francisco Sadoc de. História religiosa da Meruoca.
Imprensa Universitária – Fundação vale do Acaraú – Sobral – ceará, 1979.
[3] Kátia Gomes (p. 17)
[4] HISTÓRIA DA VIDA PRIVADA NO
BRASIL: Império/coordenador geral da coleção Fernando A. Novais; Organizador do
volume Luiz Felipe de Alencastro.-São Paulo: Companhia das letras,
1997.-(História da vida privada no Brasil; 2)
[5] FAUTO, Boris. História do Brasil. 10 ed. São Paulo:
Editora da universidade de São Paulo, 2002.
[6] IDEM.
[7] IBIDEM.
[8] Boris
Fausto (p. 129)
[9]
PESSOA, Dirceu Murilo; CAVALCANTI, Clóvis de Vasconcelos. Caráter e efeitos da Seca nordestina de 1970. Fortaleza: Banco do
Nordeste; Recife: fundação Joaquim Nabuco, 2002. (Série estudos sobre as Secas
do Nordeste)
[10]
Conversa com um velho sobre as seca (Malveira, 2001: 19)
[11]
SOBRINHO, Th. Pompeu. A orientação
Científica contra as Secas. IN: Sétimo Livro das Secas, 1983.
[12]
ALVARGONZALEZ, Rafael. O Desenvolvimento
do Nordeste Árido. Fortaleza: Ministério do Interior, 1981 (Vol. 1, O
perfil do Nordeste Árido)
[13]
GUERRA, Flávio. História de Pernambuco.
4 ed. Recife: Editora ASA Pernambuco, 1985.
Nenhum comentário:
Postar um comentário