terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

A COMUNIDADE DO MOTA: História e memória

A COMUNIDADE DO MOTA: História e Memória

                                       Por: Antonio Vicente
Sítio Mota, localizado a 30 km do município de Coreaú é uma das regiões mais antiga desta cidade sendo que suas origens remontam à época da independência do Brasil, ocorrida em 1822.
O tenente Gabriel Antonio de Aguiar, descendente de portugueses tendo nascido em Pernambuco sofrendo represálias por ser favorável à independência fugiu aportando no litoral de Camocim. De lá veio para onde hoje corresponde ao sítio mota. Disposto a encravar morada neste local e seguido por uma leva de escravos construiu sua casa onde hoje se situa o Olho d’água do mota[1] (de onde vem o nome do local), construiu um sobrado, que ainda hoje encontramos vestígios desta casa, possuía uma grande criação de gado e se apossando de uma larga faixa de terras começou a desenvolver a agricultura sendo que costumava viajar ao litoral fazendo a troca de gêneros alimentícios.
Depois de depois de fixar – se na terra começou a receber a visita de uma índia que fazia parte da tribo doa tapuias, da Serra da Meruoca. Esta tribo, menciona Pe. Sadoc no seu livro “História religiosa da Meruoca”[2], como sendo vindos
“da Bahia de onde começaram a fugir com as curtas levas de tapuias, como as nações Aconguçus, Icós e Cariris. Bandeiras bahianas, ligando o rio são Francisco ao Parnaíba, acorreram estes índios e os empurraram para o norte (...), eram as serras os locais preferidos pelos índios para se refugiar contra qualquer perseguição, houve porisso uma corrida do litoral para as serras por parte dos índios, depois que os colonizadores brancos começaram a ocupar a costa (...), é sabido que os Índios tapuias ou Jês, Índios da língua – travada,eram mais resistentes à integração na civilização do que os Índios da língua geral (nhengatu)”.  

É interessante observar que a palavra tapuia é uma palavra que designa apenas o nome de um tronco de várias tribos não se restringindo apenas a uma tribo existindo tribos, além da Serra da Meruoca, na Serra da Ibiapaba e em outras regiões. 
Tal fato é comprovado pela oralidade que a Índia Chicota do Mota andava pelas serras e que sendo pega por cachorros foi levada para uma tribo e começou conviver com os demais. Esses tapuias foram agregados à missão da Ibiapaba sob a organização do Pe. Ascenso Gago, como registrou Pe. Sadoc.
R. Batista Aragão define os Reriús como fazendo parte de um grupo maior que fazem parte os Arariús, Areriús e Arariús.
“Não obstante serem nações independentes, sob o ponto de vista social, as quatro nações se completavam através do companheirismo diante do qual suas atividades seriam delimitadas, envolvendo a caça ao mel, a cata aos mariscos(...). Além disso, essas nações eram governadas por quatro principais, independentes entre e representados pelos Índios Arapá, Timicu,Coió e guarará, tendo suas aldeias encravadas no complexo montanhoso da Meruoca”(p.65).
A índia que foi pega por cachorros foi amansada a viver entre os índios como uma pessoa adaptada a presença de outros.Fazia constantes visitas ao tenente Gabriel Antônio de Aguiar pedir uma “maltutagem”. Ou seja, pedir bois para a alimentação da tribo, diante disso um dia o tenente propôs à Índia que se casassem. O nome dela passou a ser Francisca Cachinoar de Aguiar (conhecida por chicota do Mota) e constituíram uma grande família.
A terra que o tenente se apossou passou a se chamar Data conceição que iam do Olho d’água do Bode (onde morava uma mulher chamada Conceição, daí o nome da Data) ao Pajeú. As dimensões do terreno era 2 léguas de Sul ao Norte e 4 de nascente a poente, fazendo estrema ao lado nascente com a data santo Antonio (onde hoje corresponde ao distrito de Araquém), a data Cunhaçú (que corresponde ao lugar de mesmo nome) e a data Uberaba (onde hoje corresponde ao distrito de Arapá, Tianguá). Do lado norte extrema – se com a data Carnaúba furada e a data Imbueira.
Sabe-se que as terras da data foram herdadas pelo Capitão Antonio Félix da cunha-Genro do tenente Gabriel -, conhecido por “o comprador de terras”.
Para analisar a história, comportamentos, fatos e conceitos preestabelecidos creio ser necessário analisar o espaço e seu processo de construção ao longo do tempo para então tirar uma conclusão a partir das indagações e respostas, pois 
“Cabe ao historiador questionar a idéia de transformação, mudança, movimento, tendo como principal objetivo saber como as coisas aconteceram principalmente descobrir o significado e a direção da mudança, com a argumentação de que a boa história não é simplesmente tentar descrever e analisar o passado, mas investigar ou questionar como as coisas ou a sociedade mudaram, contribuindo para uma história social mais dinâmica”[3].
Pensando dessa forma é importante não só descrever acontecimentos, antes de tudo é necessário estudar o espaço (urbano) e a maneira como se configura no cenário regional, nacional e por que não internacional? Pois, sabemos que a realidade não se explica apenas por fatores locais. Muito pelo contrário, pode estar entrelaçado por diferentes e longínquos fatores.
2. A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL E PROCESSO DE FORMAÇÃO DO MOTA
O período que se segue com a vinda do tenente Gabriel Antonio de Aguiar para o Mota deve ser entendido no contexto dos movimentos que se sucedem com a chegada da família real no Brasil em 1808. Nesse contexto devemos levar em conta os movimentos de rebeldia ocorridos principalmente na província de Pernambuco onde reside o tenente e que por isso vai beber da mesma água dos revolucionários daquele período e que agitar toda a colônia.
O que se segue então é um processo de revolta contra as medidas do rei que quando aqui chega não vai deixar de ser Portuguesa e com certeza vai tratar dos interesses dos Portugueses no Brasil. Aliado a esse fato haverão fato de D. João reservar os melhores cargos para a nobreza lusa e o peso dos impostos irão recair sobre os brasileiros que irão suportar sozinhos as despesas das campanhas militares que o rei promoveu no rio da prata. Aliado a isso tinha o fato de os nordestinos se ressentirem da perda de domínio político que se transferira de um lugar estranho (Lisboa) para outro igualmente estranho (Rio de Janeiro).  
Desde o início do século XIX o Brasil vinha passando por significativas mudanças. Primeiro, se considerarmos a chegada da família real no Brasil, em 1808, fugindo das guerras napoleônicas – o bloqueio continental propunha que Portugal estava proibido de comercializar com a Inglaterra. No entanto, Portugal tinha laços muito fortes para não deixar de fazer trocas comerciais com esta – e instalando – se no Rio de Janeiro com um grande contingente de pessoas:
“A transferência da corte trouxe para a América portuguesa a família real e o governo da metrópole. Trouxe também, e sobretudo, boa parte do aparato administrativo português. Personalidade diversas, funcionários régios continuaram embarcando para o Brasil atrás da corte, dos seus empregos e dos seus parentes, após o ano de 1808. Concretamente, além da família real, 276 fidalgos e dignitários régios recebiam verba anual de custeio e representação, paga em moeda de ouro e prata retirado do tesouro real do Rio de Janeiro. Luccock calculava em 2 mil o número de funcionários régios e indivíduos exercendo funções relacionados com a coroa. Junte-se ainda os setecentos padres, os quinhentos advogados e os duzentos praticantes de medicina residentes na cidade. Terminadas as guerras napoleônicas, oficiais e tropas lusas vêm da Europa para a corte fluminense. Segundo o almirante russo Vassili Golovin, que fez duas estadias na cidade, em 1817 havia no rio de Janeiro de 4 mil a 5 mil militares”[4].
Em resumo, calcula-se que pelo menos 15 mil pessoas transferiram-se de Portugal para o Rio de Janeiro naquele período. Também vieram colonos de outras partes do império português Angola e Moçambique, por exemplo.
 Segundo Boris fausto, com a chegada da família real na colônia começa a abertura dos portos às nações amigas (28 de janeiro de 1808) o que representa o fim de trezentos anos do sistema colonial. Dom João com esse ato revogava também os decretos que proibiam a instalação de manufaturas na colônia, isentava os tributos sobre importações de matérias – primas, oferecia subsídios para as indústrias de lã, de seda e ferro.
“A abertura dos portos foi um ato historicamente previsível mas ao mesmo tempo impulsionado pelas circunstâncias do momento. Portugal estava ocupado por tropas francesas, e o comércio não podia ser feito através dele. Para a coroa, era preferível legalizar o extenso contrabando existente entre a colônia e a Inglaterra e receber os tributos devidos .
A Inglaterra foi a principal beneficiária da medida. O Rio de Janeiro se tornou o Porto de entrada dos produtos manufaturados Ingleses, com destino não só ao Brasil como ao Rio da Prata e a costa do pacífico. Já em agosto de 1808 existia na Cidade um importante núcleo de 150 a 200 comerciantes e agentes comerciais ingleses. Descrevendo as arbitrariedades da alfândega do Rio de Janeiro, um desses agentes – Jonh Luccock relatava –aliviado, 1809, que os ingleses tinham se tornado senhores da alfândega, que eles regulavam tudo, e que ordens tinham sido transmitidas aos funcionários para que dessem particular atenção às indicações do cônsul britânico“[5].   
Boris analisa também que não só comerciantes beneficiaram-se com a abertura dos portos como também os proprietário rurais que produziam para as exportações (açúcar e algodão, principalmente). Analisa ainda que essas mudanças não aconteciam passivamente já que diferentes mudanças ocorreram na política o que gerou conflitos.
2.1 A REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA DE 1817
Um desses conflitos surgiu na província de Pernambuco em 1817. Descontentes com a política de Dom João que indicou para guarnecer as cidades as cidades brasileiras forças militares portuguesas fazendo com que os gastos dessas campanhas militares fossem pagas pelos brasileiros. Aliado a isso ainda era reservado os melhores postos aos lusos.
Os problemas de desigualdades regionais e o sentimento de indiferença - pois, o domínio político da colônia passar de uma cidade estranha para outros, de Lisboa para o Rio de Janeiro – fez surgir
“... A revolução que estourou em Pernambuco em Março de 1817 [que] fundiu esse sentimento com vários descontentamentos resultantes das condições econômicas e dos privilégios concedidos aos portugueses. Ela abrangeu amplas camadas da população: Militares, proprietários rurais, Juízes, artesãos comerciantes e um grande número de sacerdotes, a ponto de ficar conhecida como a ‘revolução dos padres’. Chama a atenção a presença de grandes comerciantes brasileiros ligados ao comércio externo, os quais começavam a concorrer com os portugueses, em uma área até então controlada, em grande medida por estes.
Outro lado importante da revolução de 1817 se encontra no fato de que ela passou do Recife para o sertão, estendendo-se a Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte. O desfavorecimento regional, acompanhado de um forte antilusitanismo, foi o denominador comum dessa espécie de revolta geral de toda a área nordestina. Não devemos imaginar, porém, que os diferentes grupos tivessem os mesmos objetivos” [6](p. 128)
É nesse contexto que surgem grupos a favor e contra a presença da corte Portuguesa no Brasil e suas medidas. De um lado tem aqueles desejosos de um País independente de Portugal, outros (especialmente portugueses) preferem ver o Brasil atrelado aos interesses portugueses, pois estão sendo beneficiados e é preferível essa situação de domínio.
Assim é possível imaginar como desponta a figura do tenente Gabriel Antonio de Aguiar como sendo favorável à independência, isso porque como já vimos sendo pernambucano e sofrendo com o peso dos encargos tributários que recaíam sobre a população daquela província ficaria difícil suportar tantas injustiças.
Quanto à revolução de 1817
“os revolucionários tomaram o Recife e implantaram um governo provisório baseado em uma ‘lei orgânica’ que proclamou a república e estabeleceu a igualdade de direitos, a tolerância religiosa (...). foram enviados emissários às outras capitanias em busca de apoio e aos Estados Unidos, Inglaterra e Argentina, em busca de apoio e reconhecimento. A revolta avançou pelo o sertão, porém, logo em seguida, veio o ataque das forças portuguesas, a partir do bloqueio do recife e do desembarque em Alagoas. As lutas se desenrolaram no interior, revelando o despreparo e as desavenças entre os revolucionários. Afinal as tropas portuguesas ocuparam Recife, em maio de 1817. Seguiram as prisões e execuções dos líderes da rebelião. O movimento durara mais de dois meses e deixou uma profunda marca no Nordeste”(p. 129)[7].
2.2 A INDEPENDÊNCIA
A independência do Brasil se explica por um conjunto de fatores. Um desses fatores foi a famosa revolução do Porto (1820) que exigia o retorno de D. João a Portugal. Paralelo a esse acontecimento os ânimos aqui era de crises devido à liberdade de comércio com a abertura dos portos. Crise política em decorrência da ausência do rei; crise econômica, devido à liberdade de comércio; crise militar, lembre – se das medidas do rei quando aqui chegou.
Com todas essas crises e revoltas era impossível sustentar um regime coeso (e monarquista) no Brasil por outro lado D. João sendo obrigado a deixar o País para tratar dos assuntos em Portugal acaba por deixar em seu lugar o filho D. Pedro que assumiria o governo e logo seria obrigado a adiar o já previsto a independência do Brasil. Acompanhemos os fatos.
Sufocada a revolta de 1817 a coroa tomava medidas no sentido de promover uma integração entre Portugal e Brasil como partes de um mesmo reino. Além do mais
“(...) a guerra terminara na Europa, em 1814, com a derrota de Napoleão. As razões da permanência da corte no Brasil aparentemente já não existiam. Dom João decidiu entretanto permanecer na colônia e em dezembro de 1815 elevou o Brasil a condição de reino unido a Portugal e Algarves. Meses depois, após a morte da rainha, seria sagrado rei de Portugal, do Brasil e Algarves, com o título de dom João VI[8].
Diante de todos esses acontecimentos e os problemas que surgem em Portugal, a famosa revolta de 1821, a ida de dom João para Portugal acontece a proclamação da independência do Brasil às margens do rio Ipiranga, no dia 7 de Setembro de 1822. Com 24 anos o príncipe regente é aclamado imperador com o título de D. Pedro I o que acaba criando uma contradição pois, o novo País teria no seu governo um rei português.
Como resultados desses acontecimentos muitos ficaram desgostosos e outros não. Na maioria portugueses certamente não ficaram muito contentes com o acontecido, já estes começaram a sofrer perseguições. Foi o que aconteceu com o tenente Gabriel Antonio de Aguiar que sentiu a necessidade de buscar outros caminhos na inviabilidade de ali permanecer. Ocorre que por circunstâncias adversas (que ninguém sabe explicar como) ele vem parar nas recônditas terras que hoje corresponde ao Mota se estabelecendo aos fundos de uma serras onde construiria sua morada e família. 

Sendo assim nos anos de 1820 chega ao litoral de Camocim, posteriormente ao Mota onde pretende fixar morada. Levado pela beleza do lugar, rodeado por Serras e Olhos D’águas constrói sua Casa em cima de uma Serra.
                               2.3 A VIDA NO SERTÃO
O homem durante milênios sempre sentiu a necessidade de plantar e colher, ou seja, garantir a subsistência. No entanto, não é em todo lugar que encontramos ambientes propício a esse fim. O sertão é um ambiente pouco fértil devido às poucas chuvas e o período das Secas[9].
“A formação histórica da economia da extensa região nordestina tem, inegavelmente, no fator da água, um de seus elementos mais fundamentais. A disponibilidade de água, com efeito, condicionou, historicamente, de forma marcada, toda a orientação do processo de povoamento e ocupação que resultou na atual estrutura produtiva. Este papel central do fator de água delineia-se, simultaneamente, no nível dede sobrevivência dos homens e dos animais bem como da produção agropecuária, setor dominante da economia regional, no qual fizera como um dos fatores de produção essenciais”.
A seca sendo um dos fatores que mais atinge e se faz forte no Nordeste desponta como um dos fatores primordiais na classificação de sua gente. Isto quer dizer que, na maioria dos casos, recebemos várias rotulações devido morarmos num ambiente pouco chuvoso e onde mais se encontra pessoas pobres vítimas do fenômeno natural. No que se refere as secas são grandes os relatos que tratam do assunto sendo que desde os mais remotos tempos a historiografia trata da temática um dos primeiros registros a respeito do assunto se encontra na obra do Fernão Cardim (veja Malveira, 2001: 15) – Tratado da terra e gente do Brasil.
“O ano de 1587(sic), houve tão grande seca e esterilidade nesta província (cousa rara e desacostumada, por que é terra de contínuas chuvas) que os engenhos d’água não moeram muito tempo. As fazendas de canaviais e mandiocas muitas se secaram, por onde houve grande fome, principalmente, no sertão de Pernambuco, pelo que desceram de sertão apertados pela fome, socorrendo –se aos brancos quatro mil índios”.
 Entretanto, esse Sertão do qual estamos falando é um dos ambientes mais propícios à produção de alimentos, embora que já tenhamos registrados períodos de Seca, fora a isso se pode plantar o arroz, o feijão, o milho, a mandioca e o algodão. Foi assim que durante anos sobreviveram as pessoas desse lugar. Quando se trata do período em que o tenente Gabriel chegou a nesse lugar o comércio era feito no Litoral – eram os famosos Comboios – em que se fazem as trocas de gêneros agrícolas (arroz e feijão, principalmente) por peixes, açúcar, rapadura, etc.
A vida no sertão nordestino é dificultada por diversos fatores, entre estes está o problema das secas que assolam um grande número de pessoas. Mota se localiza numa Área semi – árida, embora encontremos alguns Olhos d’água ao sopé das serras das quais ele fica circundado. Aqui temos um inverno que se estende de Janeiro a Junho e enfrenta em certos anos certas irregularidades. Um dos momentos mais marcantes e que está impresso na memória daqueles que viveram àquela época é famosa seca de 1958 que fez grandes estragos e a de 1983. Quanto a primeira existem vários relatos pois foi uma das que mais atingiu a população nordestina e aconteceu num período bem recente
“A seca de 1958 foi assustadora, colheu os agropecuaristas de surpresa, quase não choveu, deixou um capim ralo, facilmente, levado pelo vento (víveres, nada). Participei de tudo, inclusive das frentes de trabalho, frisava o ancião. Apesar da sequidão o gado era sadio e o povo também (não houve peste) como em secas anteriores (1932). No entanto, havia uma peste planejada, representada pelos larápios, os ladrões, escondidos nos fornecimentos que, sorrindo como raposas arrancavam o couro dos míseros trabalhadores”[10].
Quando se fala em secas ou períodos de estiagem vários autores explicam que esses não são um fator isolado, Pompeu Sobrinho[11] se expressa da seguinte forma:
“O fenômeno das secas é muito mais universal do que ordinariamente se supõe. Cerca de metade da superfície terrestre experimenta os seus malefícios e efeitos. A ocorrência e a intensidade destes efeitos variam muito; mas, alem das variáveis de natureza cósmica, importa, sob o ponto de vista econômico, ou melhor, social, considerar outros fatores importantes, os de natureza cultural das populações sujeitas aos embates do fenômeno”.   
Dessa maneira uma sociedade menos desenvolvida tende a sofrer maiores “vexames” com a situação comprometendo sua subsistência ao passo que uma sociedade mais complexa os malefícios passam mais despercebidos, analisa o autor que também ressalta que a seca é um fenômeno que atinge não apenas os diretamente envolvidos na calamidade, mas a compaixão de várias pessoas que se organizam em favor dos flagelados. Neste contexto surgem também aqueles que se aproveitam da situação, principalmente em épocas de eleição para conseguir alguns votos.
Referindo – se ao mesmo assunto Alvargonzalez observa que o drama das secas no Nordeste é uma problemática com consequências que vão além da falta de água
“Sua gênese deriva da conjunção de imenso cenário ecológico, no qual imperam condições adversas à prática da agricultura de subsistência e de uma sucessão de eventos que conduziram, não obstante, a sua predominância. Sua presença, transfigurada securlamente em tenebrosa borrasca de reiteradas calamidades, deixou atormentada marca, cuja impressão ressalta nitidamente na literatura e no folclore nacionais” [12].


2.3.1 ECONOMIA
  Desde os mais remotos tempos Mota e localidades vizinhas tiveram como base econômica a agricultura itinerante (os chamados Roçados) que é a base de subsistência em região de solo pouco fértil, pedregoso árido, com chuvas entre os meses de janeiro a Maio. Os gêneros mais produzidos é o milho, arroz, feijão, mandioca, mamona, gigilim e algodão, sendo que este último era vendido em grande escala, pois a produção era grande já que o mercado precisava e o preço era bom. Se referindo a esse período áureo do algodão Flávio guerra[13] argumenta que  
“Sem se falar no açúcar, agora desimpedido no mercado estrangeiro, sendo tão sensível a sua produção que em 1812 excedera a dos princípios do último século, surgira, também, a época áurea do algodão – quando se viam plantadores e comissários de negócios da herbácea – nadando na maré da fortuna, com o aumento que chegava a quinhentos por cento no seu preço como consequência da guerra de 1812 e 1813 entre os Estados unidos e a Inglaterra e da extinção em 1815 do bloqueio continental” (pp. 85 – 6).
A titulo de exemplo, em época bem recente um dos grandes produtores de algodão era o senhor Zé Izabel – já falecido – que vendia carradas da matéria prima para Sobral, da mesma forma fazia o seu Chicó. Hoje, não se tem mais a venda desse artigo, predominando apenas o arroz, feijão e milho. O comercio ainda é pouco intenso, mas é uma das atividades que vem mais se destacando no cenário.
A agricultura a cada dia vem desiludindo os trabalhadores, pois, bem lembram, a produção não compensa os gastos, fazendo com que fique restrita àquelas famílias que têm um médio ou grande contingente de pessoas: pagar trabalhadores não compensa pois no final das contas o que se produz não dar para pagar o serviço prestado pelo ajudante. O plantio da mandioca não compensa já que quando se chega ao produto final o trabalho ou investimento que se fez não é compensado. O que se ver, ainda, são algumas famílias que se utilizando dos próprios esforços (sem ajudantes) sentem a falta (lembranças que as farinhadas eram constantes no passado e a reunião para diversão e momentos de encontros) das saudosas farinhadas.
De outra maneira, temos uma agricultura pobre, desiludindo já que os solos estão cada vez mais pobres, a juventude sem nenhum interesse em continuar ajudando seus pais na lavoura e a cada dia se ver mais pessoas interessados em conseguir um emprego. Outros já pensam em ir embora do lugar, prova disso é o grande número de jovens que já foram para a capital em busca de emprego, muitas vezes, em Restaurantes, como Garçons.
Como solução para esses problemas se faz essencial um planejamento onde se procuraria desenvolver e dinamizar a economia gerando novas perspectivas de futuro. A formação de cooperativas, associações, qualificação profissional. Um dos projetos que deveriam ser mais destacados é a irrigação que conta com excelente meio às margens do rio Juazeiro e Coreaú. Com certeza seria um investimento que traria grandes mudanças já que como se vê tem um enorme potencial com a produção de legumes, mamão e outros, pena que os pequenos investimentos nessa área não passam da iniciativa privada de médios agricultores. É preciso se repensar o desenvolvimento do município de Coreaú, principalmente no que diz respeito à industrialização. Não encontramos nenhuma empresa que gere emprego e  renda para nossos trabalhadores. E o que vamos esperar para nosso futuro: estudar, se formar um dia e ir embora da cidade? Só se for, porque pelo o que se ver  cidade não oferece nada que desperte o interesse dos jovens. É preciso planejar  a cidade para que possamos enxergar nela um futuro e querer se formar na vida estudantil para conseguir um emprego e podermos se orgulhar de viver num ambiente sociável, de progresso e sustentabilidade.



[1] Algumas pessoas entendem que a palavra Mota é um nome indígena. No entanto não sabem o seu significado.
[2] ARAÚJO, Francisco Sadoc de. História religiosa da Meruoca. Imprensa Universitária – Fundação vale do Acaraú – Sobral – ceará, 1979.
[3] Kátia Gomes (p. 17)
[4] HISTÓRIA DA VIDA PRIVADA NO BRASIL: Império/coordenador geral da coleção Fernando A. Novais; Organizador do volume Luiz Felipe de Alencastro.-São Paulo: Companhia das letras, 1997.-(História da vida privada no Brasil; 2)
[5] FAUTO, Boris. História do Brasil. 10 ed. São Paulo: Editora da universidade de São Paulo, 2002.
[6] IDEM.
[7] IBIDEM.
[8] Boris Fausto (p. 129)

[9] PESSOA, Dirceu Murilo; CAVALCANTI, Clóvis de Vasconcelos. Caráter e efeitos da Seca nordestina de 1970. Fortaleza: Banco do Nordeste; Recife: fundação Joaquim Nabuco, 2002. (Série estudos sobre as Secas do Nordeste)
[10] Conversa com um velho sobre as seca (Malveira, 2001: 19)
[11] SOBRINHO, Th. Pompeu. A orientação Científica contra as Secas. IN: Sétimo Livro das Secas, 1983. 
[12] ALVARGONZALEZ, Rafael. O Desenvolvimento do Nordeste Árido. Fortaleza: Ministério do Interior, 1981 (Vol. 1, O perfil do Nordeste Árido)
[13] GUERRA, Flávio. História de Pernambuco. 4 ed. Recife: Editora ASA Pernambuco, 1985.

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